Beró significa rio.
- Beró Arquitetura
- 24 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de jun. de 2024
Eu não sei se vocês sabem, mas "Beró" significa rio.
Pode parecer esquisito chamar um lugar onde se faz arquitetura de “rio”, mas já parou para pensar que boa parte das cidades surgiu à beira de um?
Rios são vivos, e o que é vivo muda. Assim como a vida, os rios também correm. Rios nunca são os mesmos, estão em constante mudança, vivem, serpenteiam, assumem novas formas e redesenham suas margens.
E esse leito muda conforme a vida muda. No seu espaço, a vida floresce, caminha e se transforma.
Nas últimas semanas, nosso manifesto parece irônico perante essas transformações bruscas que estamos passando...
Buscamos entender um pouco mais o significado de 'luto urbano'. Passamos de estado de choque e emergência para a percepção de que aquele espaço 'chegadas' está, então, exposto. Nas calçadas, ao diminuir o nível da água, tudo que resta são pedaços do que um dia foi um lar. A água suja representa o descaso de quem deveria proteger o povo.
Então, buscamos nas palavras do professor e arquiteto Fernando Fuão esse entendimento do significado de casa e reconstrução na nossa realidade: "Voltar para casa, reconstruir e remobiliar o que restou, a paz de estar dentro da casa no estado que tiver. Como se diz: preciso dormir essa noite em casa, 'na minha cama', mesmo que seja só um colchão usado no chão. Essa casa sem sentido, esvaziada como um corpo sem órgãos, ainda é a casa de cada um. Literalmente uma querência, o lugar sempre de voltar; mesmo que não passe de uma carcaça. É ali o lugar onde se fixa e se estabelece; se ordena a vida e a psique; o lugar onde começa a orientação da vida. A casa é ponto de partida e de chegada de todos os trajetos possíveis na vida, ela não só dá proteção como estabiliza."
A arquitetura faz florescer nosso estilo de vida. Ela permite que nos sintamos valorizados e, muitas vezes, que consigamos aproveitar plenamente as possibilidades que queremos do mundo.
Ana Martins Marques escreveu que o contorno de uma casa é o seu entorno: a paisagem, os vizinhos com os quais cruzamos no elevador, a temperatura das manhãs. Determinados barulhos, certas incidências do sol. São as palavras que nos dirigem os porteiros, as distâncias relativas dos lugares que frequentamos. O cheiro de tinta, o toque dos tacos. O direito de dizer que aí moramos, o salvo-conduto para entrar e sair e mesmo a permissão para morrer aí.
Sabemos disso, e por isso fazemos e defendemos uma arquitetura humana, que atenda seu jeito de ser, seus objetivos e seu momento. Como pode então a arquitetura ser tão individual e coletiva ao mesmo tempo?
Uma arquitetura que respire, que tenha espaço para evoluir e mudar suas margens.
Uma arquitetura acessível, que possa propor mudanças mesmo em situações onde isso parece difícil.
Uma arquitetura que construa pontes e que faça a vida florescer e ter um pouquinho de poesia.
Nós também não sabemos a resposta. Nós também estamos trabalhando nossos lutos. Nós não queremos estabelecer ‘novos normais’ a cada passo. Mas nós sabemos como fazer arquitetura para as pessoas. E é nisso que vamos trabalhar dia após dia.
Esse post contém trechos do livro 'Como se fosse a casa: Uma correspondência' de Ana Martins Marques, do manifesto da marca Beró, escrito pelo design Guilherme Canon e do texto do arquiteto Fernando Fuão, 'Cidades temporárias'.

Comentarios